O TRABALHO PESADO Um pouco roqueira, um pouco pop, um pouco punk, a cantora e compositora Pink tem desafiado expectativas por mais de décadas. Em uma simples conversa, ela faz uma jornada que vai da Pensilvânia até “Funhouse”. Por Chris Neal.
Minha lembrança é de meu pai cantando para que eu dormisse quando ainda era bebê. Algum tempo depois, ele ficava tocando violão todas as noites, e sentava e cantava. Essa era a minha língua. Antes de poder falar, eu conseguia cantar. Era o único jeito que as pessoas paravam para me escutarem. Comecei a ter aulas de canto com 9 anos e ganhei meu primeiro prêmio quando eu tinha 9 ou 10 anos. Acho que fui a única com menos de 30 anos naquela competição. Eu cantei “Oh Father”, da Madonna. Quando você começou a compor? Sempre escrevia poesias, e eram muito, muito obscuras. Comecei a usar drogas e escrevia poesias do tipo, “Festas e entusiasmo no chão..” Minha mãe pegou um dos livro de poesias uma vez, e depois de ler perguntou se eu queria morrer. Eu respondi, “Você não pode ler as minhas coisas! Como que você fez essa transição de poesias para músicas? Foi colocar a poesia em movimento – tinha que sentir a melodia. Acho que escrevi minha primeira música aos 13 anos. Sobre o que era? Nossa, mal me lembro… Acho que se chamava “Generation X”, e falava da tristeza que passava em minha vida de criança. Você guardou alguma dessas coisas? Sim, algumas. Guardo meus jornais desde quando eu era criança. Volto e fico olhando para eles, e às vezes consigo lembrar exatamente como escrevia coisas precipitadas. Às vezes leio e penso, “Caramba, em que eu estava pensando?” Outras vezes eu digo, “Disso eu lembro,” ou “Eu lembro desse menino. “Family Portrait”, uma das músicas que escrevi para o álbum “M!ssundaztood”, foi baseado em um poema que eu escrevi quando tinha 9 anos, que foi quando meu pai saiu de casa. Como você ingressou no mundo da música? Cantava de tudo. Cantei música gospel em igrejas, tinha banda de punk-rock, treinei e cantei ópera, além de cantar em boates de hip-hop. Aconteceu quando alguém me viu cantando em uma dessas boates, e perguntou se eu gostaria de fazer parte de um grupo de R&B chamado Choice. Fiquei muito feliz, porque o meu sonho de dar o fora da escola estava finalmente chegando (risadas). Naquela hora, não queria mais trabalhar para o McDonald’s. Nesta época eu estava em Atlanta, 16 anos. Era ainda muito jovem para começar uma carreira. Você se sentia pronta?
Seu primeiro álbum, “Can’t Take Me Home”, foi um sucesso. Como esse álbum soa para você agora? É gostoso de ouvir. Soa como… você já ouviu Alvin e os Chipmunks? Pareço o Alvin cantando (risadas). Não mudou muita coisa. “Stop falling” é uma música muito pessoal, e naquele momento eu sentia um “Eu consigo”. Como você lidou com o primeiro brilho do sucesso? Muito bem, porque não ficou comigo. Nunca tive um desses momentos “Aha!”. Pelo que vejo dos últimos 14 ou 15 anos, pessoas só acreditam naquilo que alcançam ou abaixam a cabeça. Eu sempre seguia em frente. Nunca ficava satisfeita. sentia que precisava fazer algo maior, melhor e mais auntêntico. Você sentiu pressão para ter que manter o sucesso? Só da gravadora, não de mim mesma. Para muitas pessoas no lugar como o seu, a pressão da gravadora pesa muito. Tinha uma relação muito familiar com L.A. Reid ( fundador e presidente da LaFace). Entrava no mercado com o tempo. Muitos artistas estavam sendo lançados, e as pessoas estavam lá pela música. Foi antes de surgir o Napster, iTunes, etc. Ele era como o meu paizão de negócios, e foi por causa dessa relação que hoje estou aqui. Ele me dava dinheiro do próprio bolso. Eu o chamava por vários nomes e ele fazia o mesmo comigo, mas tinha muito amor e carinho. Nós brigamos porque ambos estávamos emocionalmente dentro do negócio. Mas ao final do dia ele me ligou e disse, O que você sentiu ao perceber que o pessoal da gravadora não estava confortável com o fato de você tomar um outro rumo em seu segundo álbum? Me senti desafiada pelo medo dos outros. Primeiro fiz com que eles me deixassem fazer o que fiz em “M!ssundaztood”, e foi um sucesso, tive um momento “Eu avisei” – e eu amo, amo esses momentos que podemos dizer “eu avisei”. Depois, no terceiro álbum – “Try This”/ 2003, eles pararam de me dizer o que eu deveria ou não fazer, e foi aí que fiquei com medo. Me senti do tipo, “Espere! Não! Me digam o que não posso fazer, e é isso que farei. Não me digam que eu posso fazer o que bem quiser, porque se não irei para a cama.” (risadas). De onde surgiu a ideia de trazer Linda Perry para compor em seu segundo álbum? Eu era fã do 4 Non Blondes. Ela era a voz que me guiava em meus momentos ruins da adolescência. Consegui o telefone dela em uma listagem de artistas, e surgiu a ideia. Eu disse, “Certo, vou enchê-la até que ela escreva uma música comigo.” Liguei para ela, deixei mensagens e cantava as músicas dela no telefone. Finalmente ela se cansou de mim, ou não havia mais espaços em sua caixa de mensagens eletrônicas, pegou o telefone e me disse, “Você é muito doida, vamos lá!” Foi esquisito nos primeiros cinco minutos porque eu era muito fã, mas tomamos cerveja e fomos para o estúdio dela. Ela disse, “Certo, como você está se sentindo hoje?” e me deu um microfone. Estava com os meus jornais, e ela disse, “Esqueça isso, só me diga como você está se sentindo hoje.” Literalmente, dez minutos depois, uma música estava escrita, não sabia que estava em mim. Não sabia se tinha algo para dizer naquele dia, e nunca saberia. É assim que as pessoas começavam a me conhecer de verdade. Ela também me disse, “Você é uma sobrevivente, passou por muitas coisas, e mesmo assim é uma garota muito forte. Você construiu uma parede enorme em volta de você, e o meu trabalho é derrubar essa parede. O seu trabalho é nunca mais ser defensiva, porque você sofre de dores que poderiam ajudar outras pessoas.” Acho que nunca mais fiquei retraída e defensiva. O que você procura em uma colaboração? Alguém com quem eu possa sair. Alguém que não esteja fazendo esse trabalho para ficar conhecido, alguém que tenha passado por vários momentos e que eu possa confiar. Saberei em cinco minutos quando sentar-me com alguém e começar a contar do meu dia para ver se eles entendem. Às vezes funciona, e às vezes não. De onde você acha que vem toda essa sua transparência? Não sei. Não sou boa em ficar escondendo segredos. Várias pessoas já passaram por mim e diziam, “Sabe, você não precisa ser tão transparente.” Nada me choca, nada parece o limite. Gosto de ver as pessoas expondo as almas. Gosto de ver quem as pessoas realmente são. Quando você vai trabalhar com alguém, você já leva letras prontas? Não, geralmente não. Tenho notebooks onde poderia criar na hora, ou falar de coisas que me deixem insensível ou feliz. Felicidade, para mim, é o sentimento mais forte quando é escrito em forma de música (risadas). Mas tenho que ser sincera – ao escrever esse álbum, não olhei em meu notebook. Tive minhas próprias inspirações. Você já tentou escrever sem colaborações? Não sou tão boa nisso. Toco bateria, mas é difícil de alcançar a melodia só com bateria (risadas). Aprendi a tocar violão, recentemente, – ou estou aprendendo, devo dizer – e estou conseguindo. Existe algo na maneira em que eu aprendi a cantar com o meu pai – ele fazia o acorde, e eu encontrava a melodia. É algo que me faz depender de alguém para criar os acordes. Não é só sentar com um compositor e esperar ele estalar os dedos. Tem algo nesse mistério de não saber aonde o compositor quer chegar que mexe comigo. Como você enxergaria o futuro? Não tenho a resposta. Nunca fui do tipo de pessoa que faz planos. Neste exato momento, consegui fazer tudo o que disse que deveria fazer quando eu estava nos meus 9 anos, exceto viajar pelo mundo todo pedindo carona. Quero ajudar animais, produzir vinho, ter uma família, se tornar uma pessoa e compositora melhor, e continuar a fazer turnê. Esse é o futuro para mim. Odeio ter que te fazer essa pergunta, mas em setembro você fará 30 anos. Como você se sente? Incrível. Estou muito animada pelos 30 anos. É quando o mundo te pega por baixo, te sacode, te coloca do lado certo, te dá um par de taças e diz, “Está na hora!” Mal posso esperar pelo momento.” POR DENTRO DA MÚSICA – DEAR MR. PRESIDENT
Pink disse que depois do lançamento da música, ela recebeu uma carta do veterano David Crosby. “Ele disse, ‘Obrigado por ter escrito essa música. você está carregando a tocha para a sua geração.’, Fiquei, “É mesmo, agora sou boa. Tive o elogio de que precisava.” POR DENTRO DA MÚSICA – SO WHAT
Tradução: @fahmiguel That’s all! |
13 de setembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário